O Espaço do Teatro na Escola - mãos à obra.


Uma das questões com a qual os professores de Teatro obrigatoriamnente se deparam ao chegar no mercado de trabalho é: que papel ocupa o ensino de Teatro dentro das escolas? Guardadas as devidas proporções, regionais, nacionais, municipais, nos deparamos, de maneira geral, com o mesmo problema. Via de regra, ou o espaço p/ esta atividade não existe, ou está sendo mal-aproveitado pela escola. Poucas são as exceções. A que se deve este fato? Será responsabilidade das escolas, mal-informadas sobre as possibilidades pedagógicas do teatro-educação? Será responsabilidade da Universidade do Estado, há tempos aquela que forma (ou de-forma) os professores desta área? Ou ainda dos profissionais da área, que criam espaços e não os aproveitam bem, ou nem procuram criá-los?
A meu ver, a justificativa é composta pelo somatório de todos os fatores acima citados. Um pouco de cada, em medidas diversas, afinal, cada caso é um caso. Mas com alguma coisa em comum..! Da parte das escolas, o que normalmente ouvimos são propostas descabidas ou sem embasamento nenhum, geralmente tratanto o ensino das Artes Cênicas (e muitas vezes das Artes em geral) como acessório das outras disciplinas, ou como uma parte da recreação e mais comumente ainda, como espaço para montagens de "pecinhas" ou "teatrinhos" para datas festivas do calendário escolar. Que professor ou professora de Teatro nunca se deparou com uma dessas três perspectivas acerca do seu trabalho? São assustadoramente raras as Escolas que não encaram de forma diminutiva o ensino das Artes Cênicas. Da mesma forma, encaramos outra realidade assustadora quando avaliamos a parte da Universidade do Estado neste processo. Tendo sido aluna recente deste estabecimento, posso afirmar: (agora com ainda mais convicção, uma vez que já estou no mercado de trabalho) lá, não encontramos o espaço e a orientação necessária para nos preparar para o mercado. Para quem já estudou lá, isso não é novidade, ainda que alguns poucos insistam em enfeitar o passado, confundindo experiências pessoais com experiências coletivas. O que acontece, na minha opinião é que não há unidade de ensino e particularmente no caso das disciplinas de estágio, a maioria dos educadores-em-formação é deixada à própria sorte. Quem tem sucesso em encontrar um campo frutífero para seus estágios, e além disso de encontrar um professor responsável para efetivamente orientá-lo, acaba tendo uma experiência formativa consistente e real. O restante acaba à deriva, sem orientação ou mesmo vivendo uma experiência traumática. A UDESC não vem cumprindo o seu papel no que diz respeito à preparação de seus alunos para o real mercado de trabalho da educação. Não auxilia os educandos a sistematizar uma metodologia aplicável de trabalho, e muito menos orienta no sentido de ampliar e fortalecer os laços entre escolas e universidade. E essa situação dá origem ao terceiro problema, que acredito estar intimamente ligado à escassez de espaços para o teatro-educação nas escolas. A performance dos profissionais da área. É necessário acrescentar aqui que é frequente encontrar nas escolas, professores não habilitados na área, ocupando a vaga de professor de artes-cênicas. E assim, surge uma contradição: se os habilitados pela UDESC estão mal-preparados, os que não são habilitados na área por universidade alguma, estão em uma situação ainda pior. É muito raro, para não dizer coisa pior, encontrar um trabalho consistente e estruturado, regido por professor não formado em Artes Cênicas. O mais comum é encontrar aberrações sem proporções, trabalhos que não valem nem comentários...processos que dimunuem a arte do teatro, que a reduzem a uma ginástica sem propósito, ou a uma récita de mal-gosto talvez. Novamente, o teatro-educação como acessório, como enfeite e/ou recreação.
Do outro lado da moeda está uma parte considerável dos professores habilitados que, perdidos em sua despreparação acadêmica, não encontram meios de estruturar seu trabalho, não dispõem das armas da argumentação e do discurso para enfrentar a reticência das direções de escolas e dos pais. Pode paracer exagero mas é preciso ser persuasivo, ou persuasiva, para convencer a comunidade escolar dos benefícios que uma disciplina curricular ou oficina extra-curricular de teatro pode oferecer a todos. É uma batalha diária! Trabalhar não só em sala de aula, mas fora dela, para decodificar dia-a-dia, propostas pedagógicas e resultados para quem desconhece o ofício, e, na maioria das vezes, nem frequenta os teatros. Esse diálogo, que deve ser constante, é o fertilizante desta complexa relação. É preciso re-significar o processo enquanto "colheita", e o produto enquanto consequência e/ou finalização de um aprendizado, meio e não fim em si.
Aqueles que restam, aos poucos vão adentrando a Escola, semeando o interesse e o respeito pelo Teatro enquanto linguagem autônoma e específica, que tem, por si só, muito a oferecer aqueles que lhe cederem tempo e dedicação.
Sem mais, convido a todos e todas: mãos à obra, há muito a se conquistar!!



Mariana Schmitz

1 comentários:

Oficina da Poesia em Cena disse...

Mariana abre o debate e eu coloco lenha na fogueira.

As questões levantadas por Mari me acertam em cheio.

A resposta é para problematizar mais...

Nara Micaela Wedekin