Por Juliano Thomaz
Em minha primeira reflexão das muitas que pretendo postar neste blog, quero falar sobre nossa primeira participação em evento artístico cultural, enquanto Grupo de Pesquisa em Teatro-educação. Estou falando do 2º FITA (Festival Internacional de Teatro de Animação) realizado em Florianópolis, no mês de junho de 2008. Levando em consideração nossa participação não somente como admiradores, mas como educadores que levam seus alunos para ver Teatro, decidi fazer minha primeira participação na discussão sobre nossa Arte-educação e mais precisamente sobre o motivo pelo qual estamos pesquisando e trabalhando. Bem como sobre o motivo que nos faz, como disse a Nara, não mudar de profissão.
Como Professor-pesquisador na área das Formas Animadas, visto que meu estudo está relacionado ao uso de máscaras no processo de ensino teatral, me sinto bastante satisfeito em ter conferido alguns espetáculos do 2º FITA. Primeiro, pelo simples fato de que diferentemente de outros eventos que acontecem, neste tivemos uma grande atenção por parte da organização. No início da semana já tínhamos a garantia do 2º FITA que poderíamos levar nossos alunos (de escola pública) gratuitamente aos espetáculos.
Mas como nem tudo são rosas por aqui, a nossa querida Prefeitura de Florianópolis não é capaz de providenciar um único ônibus dessas empresas que aumentam anualmente os preços e lucram milhares de reais a nossas custas. Pois é, os alunos que me refiro aqui estudam na Escola B. M. Maria Conceição Nunes no Rio Vermelho e foram a sete apresentações do Festival. Mas como? Sem ônibus?! Exatamente isso que todos estão imaginando: de ônibus coletivo, c/ passe individual. Calculando tudo, minha colega Nara fez em torno de quatorze viagens entre o Centro e o Rio Vermelho (aproximadamente 42 Km cada uma). Mas pelo menos alguma coisa foi feita pela Prefeitura: eles pagaram as passagens de ônibus (e eu fico pensando: essas empresas devem ganhar Milhões, isso sim!).
Tenho que admitir que meu trabalho foi bem menos cansativo: somente acompanhar os alunos nas exposições e nos espetáculos. As apresentações foram ótimas, os mais ou menos 64 alunos que compareceram adoraram. Fomos em peças de diferentes abordagens: desde “STOP” do Mikropódium um belíssimo espetáculo húngaro de bonecos pequenos com uma manipulação fantástica, apresentado na rua; até o mais afamado do Festival, “La Fin Des Terres” espetáculo francês da Cie Philippe Genty, apresentado no Teatro do CIC. Vimos sombras, máscaras, bonecos de luva e de mesa, etc.
Mas antes que alguns pensem que nós apenas estamos passeando com os alunos eu saliento: apenas levar não adianta em nada. E aqui me refiro aqueles que acreditam que estão ajudando bastante somente acompanhando seus alunos ao Teatro e pouco se importando com o que eles foram fazer ali. Não posso admitir que um professor(a) se responsabilize em levar estudantes ao Teatro, mas não se responsabilize em fazer com que eles assistam ao Teatro. Para deixar mais claro, faço meu relato: em uma das apresentações do 2º FITA nos deparamos com outros estudantes bem mais velhos dos que os que eu e Nara levávamos. O que aconteceu inicialmente foi que eles chegaram bem depois dos demais e simplesmente tentaram furar a fila e passar na frente de umas três ou quatro escolas. Como se não bastasse, ao entrarem no Teatro Ademir Rosa no CIC estes estudantes não pararam um só minuto de conversar e de gritar, bater palmas fora de hora, entre outras coisas. Mas a questão aqui não pode ser só: "nossa que gente mal educada!" Não de jeito nenhum!
O que temos que pensar aqui é: onde estava o professor responsável pelo grupo?? Onde estava aquela figura que deveria instruir os estudantes sobre a forma que acontece um espetáculo; do que é estar em local de socialização; e o que é respeitar e ser respeitado. A meu ver, a maior falha de um educador, e de qualquer outro profissional, é assumir uma responsabilidade por algo que ele não é competente o bastante para fazer. Não basta apenas levar educandos ao Teatro, é preciso educar: educá-los a ir ao Teatro.
Para finalizar gostaria de falar sobre o tão bem “retro-alimentado” CIC (Centro Integrado de Cultura). Porque retro-alimentado? Porque lá dentro, alguns funcionários falam dos espaços e de si mesmos como se fosse algo indiscutivelmente bem organizado e bem administrado. Mas, infelizmente o que o discurso pré-eleitoral faz questão de salientar, não é exatamente o que vemos com nossos olhos. Ao nos dirigirmos ao CIC, que se diz INTEGRADO, nos deparamos, pela segunda vez com um MASC (Museu de Arte de Santa Catarina) vazio. Ou quase: devemos lembrar da bela exposição que está lá dentro para comemorar os Cem Anos da Imigração Japonesa no Brasil. O que lamentamos é que está lá bem no fundo, em três salas daquele espaço gigantesco que comportaria não apenas uma, mas umas dez exposições iguais aquela. O pior meus caros, é que além disso, ainda somos mal tratados por reclamar dessa má organização, ou seria má integração do Centro Integrado Cultura? É isso mesmo! Ao chamar a atenção da responsável do MASC pela falta de arte do Museu em um dia em que havia diversas escolas lá para assistir ao 2º FITA, minha colega recebeu uma resposta mal pensada e totalmente mal educada. A Sra. responsável teve a coragem de dizer que nós deveríamos ter agendado a visita de nosso alunos e não pedir para que o MASC se organize de acordo com a programação do Teatro. Em seguida, esta mesma Sra. fez um lindo discurso dizendo quão belo era o CIC e quão bom era pra nós aquela visita. O que ela não contava é que para que nossa visita seja importante para eles, burocratas, é preciso que assinemos nossa presença. O que nós fizemos questão de não fazer: para que formalizar uma visita em um museu quase vazio que não aceita críticas? Preferimos somente mostrar a exposição aos alunos e mais nada. Esta foi a minha primeira visita a um museu quase vazio, mas foi uma visita que jamais existiu para os aludidos MASC e CIC.
E agora meus amigos? O que fazemos com isso tudo? Vocês eu não sei, mas quanto a nós do Oficina da Poesia em Cena estamos providenciando um questionário que irá nos dar uma base de retorno de nossos educandos sobre suas experiências no 2º FITA. Assim, saberemos o que chamou sua atenção e o que pode servir para nosso processo educativo. Bem como, poderemos e pretendemos enviar aos responsáveis do Festival as avaliações desses estudantes sobre os espetáculos e sobre a nossa participação no evento. Desta forma estaremos não apenas auxiliando na formação de público para o Teatro, mas incentivando os organizadores a continuar a promover eventos como esse e, claro, crescendo como educadores de Arte e de Teatro. Não pesquisamos para nós próprios. O que nos importa são os educandos, suas curiosidades estimuladas e seu crescimento enquanto indivíduos em sociedade.
Professores: precisamos discutir Arte-educação, valorizar a Arte-educação; precisamos respeitar a Arte-educação!
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