1 comentários

TEMPORADA NA IGREJINHA DA UFSC!

OFICINA DA POESIA EM CENA
Grupo de Pesquisa em Teatro-Educação

apresenta

"CONFUSÕES ENTRE O CéU E A TERRA"



Montagem do Grupo Teatral PROCURANDO O RISO
da
Comunidade do Rio Vermelho, Fpolis.

Direção: Nara Wedekin e Juliano Thomaz
Produção: Adriana Conceição

DIAS: 24 e 25 de outubro às 20hs
26 de outubro às 18hs

No TEATRO DA IGREJINHA DA UFSC

Ingresso: R$10,00 (R$5,00 c/ um Kg de alimento não perecivel)

Contamos com a sua presença!!!




0 comentários

ATé ONDE A PESQUISA NOS LEVA?

[Primeiramente gostaria de pedir desculpas a todos os leitores do blog, pela ausência de certos acentos no meu texto. O que ocorre é que estou escrevendo este pequeno depoimento de um computador não brasileiro, que não possui em seu teclado certas ferramentas de acentuação. Mil desculpas a todos que ficarem confusos ao ler "esta", sem entender que se trata da conjugação do verbo estar!]

Como vocês ja sabem, caros leitores, este blog pertence a um Grupo de PESQUISA. Muitas vezes as pessoas reagem com estranhamento quando nos apresentamos assim. O que significa isso afinal? O que vale fazer parte de um Grupo de Pesquisa? De que adianta pesquisar em dias como hoje que a pratica por si so ja nem precisa de um minimo embasamento?

Acredito que esse nosso perfil esta intimamente relacionado com a nossa formação enquanto educadores. Quando eramos alunos (ainda somos alunos, na verdade), e somente "alunos", ja pensavamos como educadores. Na época seria arrogância dizer isso, mas hoje vejo que era isso que ocorria. Nunca estavamos satisfeitos com o que nos era oferecido em termos de formação acadêmica. Queriamos mais e melhor, sempre! Hoje me parece que, de certa forma, percebiamos que todos os blablablas seriam inuteis quando estivessemos frente a frente com os problemas e profundos questionamentos que o ato de ensinar implica.

E enquanto alunos, essa inquietação também se traduziu numa curiosidade teorica, numa necessidade de se buscar mais em termos de conhecimento cientifico. Investigar a fundo sobre a pratica artistica e sobre os problemas que nos afligiam, em nossos caminhos pessoais. Nossas pesquisas nasceram dessa primeira inquietação, desse primeiro "e se eu buscasse mais sobre essa questão?". Cada um a seu modo, em busca de sanar alguma curiosidade especifica, esta sempre à procura de novas respostas, de novas perspectivas acerca deste mesmo assunto que nos une....o ato de ensinar teatro.

E o que nos une enquanto grupo não é apenas o ato de ensinar em si, mas
justamente a necessidade de pensar o ato, de desmembra-lo, desdobra-lo, reve-lo, muda-lo, re-significa-lo constantemente. E para isso, temos como base a melhor de todas as bases: a relação entre suporte teorico e experiência pratica... Escrevo este texto num momento em que dois dos três membros do grupo se vêem mergulhadas no universo acadêmico dessa busca, uma terminando o mestrado (a Nara) e outra começando (eu mesma).

Não tecerei aqui comentarios sobre a experiência da minha colega de grupo, pois essa é uma experiência extremamente pessoal e tenho certeza que assim que possivel, ela deixara aqui seu depoimento também. Estou aqui para deixar o meu depoimento, o meu incentivo a todos e a todas que sentem também a nossa inquietação, essa necessidade de buscar mais...

Durante a graduação, me engajei num projeto de pesquisa, do qual fui bolsista por dois anos e do qual durante um ano ainda fui voluntaria. Este projeto, orientado pelo Prof. Dr. José Ronaldo Faleiro, se dedicava a pesquisar as muitas facetas da produção de um importante nome do Teatro Francês, um senhor chamado Jacques Copeau. Desde o principio me interessei pelo tema pois ja havia lido alguns textos que faziam referência a Copeau, textos que tratavam de temas que me instigavam. Uma vez no grupo, me debrucei sobre a questão da formação do ator, uma das heranças mais ricas deixadas por Copeau para o teatro do século XX e o meu maior interesse na area do teatro. Depois dos dois primeiros anos de pesquisa, muita leitura, catalogação, levantamento, organização e analise de dados, toda a minha produção foi reunida e sintetizada no meu Trabalho de Conclusão de Curso, defendido em 2006.

Mesmo tendo sentido que havia fializado aquela fase com a qualidade e a dedicação maximas possiveis, sabia que, de fato, minha formação ainda estava incompleta. Minha investigação ainda não estava acabada. E assim, me preparei e organizei durante um ano para fazer um mestrado que me permitisse uma busca ainda mais aprofundada sobre este mesmo tema, agora ainda acrescido de novas perspectivas e referências.

Lembro dos colegas e professores que riam ou torciam o nariz para a minha exigência durante a graduação... Lembro de ser alvo de comentarios irônicos e puxadas de tapete, por não ter nenhuma vergonha de exigir qualidade de ensino, de pesquisa e de orientação. Evidente que, esta mesma exigência sempre esteve presente em tudo que eu mesma fiz, pois nunca me contentei em produzir qualquer coisa, so para inglês ver. E apesar de ter sido mais dificil assim, e de ter despertado a ira de uns e a falta de escrupulos de outros, não me arrependo de ter sido exigente comigo e com o mundo, em nenhum momento. Querer mais me trouxe aqui, onde ninguém disse que eu chegaria...so os bons amigos de sempre!

E ca estou eu, prestes a iniciar um novo capitulo da minha formação... Um capitulo que sempre considerei necessario e que agora vou cosntruir, a todo custo, mas com a mesma exigência de sempre!

Por isso caros leitores, não se deixem esmorecer porque parece mais facil acomodar-se na mediocridade do não-saber! Se existe em vocês uma vontade de buscar, uma necessidade de ter e oferecer mais ao mundo, não se deixem contaminar por aqueles que preferem o conforto ao desafio! Desafiem-se! Mergulhem de cabeça nas perguntas... e cada problema trara uma nova questão, um novo sentido, um novo olhar sobre o mundo, e sobre você mesmo! Mãos à obra!


MARIANA SCHMITZ


0 comentários

Um Festival, Muitos Alunos e Algumas Questões







Por Juliano Thomaz





Em minha primeira reflexão das muitas que pretendo postar neste blog, quero falar sobre nossa primeira participação em evento artístico cultural, enquanto Grupo de Pesquisa em Teatro-educação. Estou falando do 2º FITA (Festival Internacional de Teatro de Animação) realizado em Florianópolis, no mês de junho de 2008. Levando em consideração nossa participação não somente como admiradores, mas como educadores que levam seus alunos para ver Teatro, decidi fazer minha primeira participação na discussão sobre nossa Arte-educação e mais precisamente sobre o motivo pelo qual estamos pesquisando e trabalhando. Bem como sobre o motivo que nos faz, como disse a Nara, não mudar de profissão.

Como Professor-pesquisador na área das Formas Animadas, visto que meu estudo está relacionado ao uso de máscaras no processo de ensino teatral, me sinto bastante satisfeito em ter conferido alguns espetáculos do 2º FITA. Primeiro, pelo simples fato de que diferentemente de outros eventos que acontecem, neste tivemos uma grande atenção por parte da organização. No início da semana já tínhamos a garantia do 2º FITA que poderíamos levar nossos alunos (de escola pública) gratuitamente aos espetáculos.

Mas como nem tudo são rosas por aqui, a nossa querida Prefeitura de Florianópolis não é capaz de providenciar um único ônibus dessas empresas que aumentam anualmente os preços e lucram milhares de reais a nossas custas. Pois é, os alunos que me refiro aqui estudam na Escola B. M. Maria Conceição Nunes no Rio Vermelho e foram a sete apresentações do Festival. Mas como? Sem ônibus?! Exatamente isso que todos estão imaginando: de ônibus coletivo, c/ passe individual. Calculando tudo, minha colega Nara fez em torno de quatorze viagens entre o Centro e o Rio Vermelho (aproximadamente 42 Km cada uma). Mas pelo menos alguma coisa foi feita pela Prefeitura: eles pagaram as passagens de ônibus (e eu fico pensando: essas empresas devem ganhar Milhões, isso sim!).

Tenho que admitir que meu trabalho foi bem menos cansativo: somente acompanhar os alunos nas exposições e nos espetáculos. As apresentações foram ótimas, os mais ou menos 64 alunos que compareceram adoraram. Fomos em peças de diferentes abordagens: desde “STOP” do Mikropódium um belíssimo espetáculo húngaro de bonecos pequenos com uma manipulação fantástica, apresentado na rua; até o mais afamado do Festival, “La Fin Des Terres” espetáculo francês da Cie Philippe Genty, apresentado no Teatro do CIC. Vimos sombras, máscaras, bonecos de luva e de mesa, etc.

Mas antes que alguns pensem que nós apenas estamos passeando com os alunos eu saliento: apenas levar não adianta em nada. E aqui me refiro aqueles que acreditam que estão ajudando bastante somente acompanhando seus alunos ao Teatro e pouco se importando com o que eles foram fazer ali. Não posso admitir que um professor(a) se responsabilize em levar estudantes ao Teatro, mas não se responsabilize em fazer com que eles assistam ao Teatro. Para deixar mais claro, faço meu relato: em uma das apresentações do 2º FITA nos deparamos com outros estudantes bem mais velhos dos que os que eu e Nara levávamos. O que aconteceu inicialmente foi que eles chegaram bem depois dos demais e simplesmente tentaram furar a fila e passar na frente de umas três ou quatro escolas. Como se não bastasse, ao entrarem no Teatro Ademir Rosa no CIC estes estudantes não pararam um só minuto de conversar e de gritar, bater palmas fora de hora, entre outras coisas. Mas a questão aqui não pode ser só: "nossa que gente mal educada!" Não de jeito nenhum!

O que temos que pensar aqui é: onde estava o professor responsável pelo grupo?? Onde estava aquela figura que deveria instruir os estudantes sobre a forma que acontece um espetáculo; do que é estar em local de socialização; e o que é respeitar e ser respeitado. A meu ver, a maior falha de um educador, e de qualquer outro profissional, é assumir uma responsabilidade por algo que ele não é competente o bastante para fazer. Não basta apenas levar educandos ao Teatro, é preciso educar: educá-los a ir ao Teatro.
Para finalizar gostaria de falar sobre o tão bem “retro-alimentado” CIC (Centro Integrado de Cultura). Porque retro-alimentado? Porque lá dentro, alguns funcionários falam dos espaços e de si mesmos como se fosse algo indiscutivelmente bem organizado e bem administrado. Mas, infelizmente o que o discurso pré-eleitoral faz questão de salientar, não é exatamente o que vemos com nossos olhos. Ao nos dirigirmos ao CIC, que se diz INTEGRADO, nos deparamos, pela segunda vez com um MASC (Museu de Arte de Santa Catarina) vazio. Ou quase: devemos lembrar da bela exposição que está lá dentro para comemorar os Cem Anos da Imigração Japonesa no Brasil. O que lamentamos é que está lá bem no fundo, em três salas daquele espaço gigantesco que comportaria não apenas uma, mas umas dez exposições iguais aquela. O pior meus caros, é que além disso, ainda somos mal tratados por reclamar dessa má organização, ou seria má integração do Centro Integrado Cultura? É isso mesmo! Ao chamar a atenção da responsável do MASC pela falta de arte do Museu em um dia em que havia diversas escolas lá para assistir ao 2º FITA, minha colega recebeu uma resposta mal pensada e totalmente mal educada. A Sra. responsável teve a coragem de dizer que nós deveríamos ter agendado a visita de nosso alunos e não pedir para que o MASC se organize de acordo com a programação do Teatro. Em seguida, esta mesma Sra. fez um lindo discurso dizendo quão belo era o CIC e quão bom era pra nós aquela visita. O que ela não contava é que para que nossa visita seja importante para eles, burocratas, é preciso que assinemos nossa presença. O que nós fizemos questão de não fazer: para que formalizar uma visita em um museu quase vazio que não aceita críticas? Preferimos somente mostrar a exposição aos alunos e mais nada. Esta foi a minha primeira visita a um museu quase vazio, mas foi uma visita que jamais existiu para os aludidos MASC e CIC.

E agora meus amigos? O que fazemos com isso tudo? Vocês eu não sei, mas quanto a nós do Oficina da Poesia em Cena estamos providenciando um questionário que irá nos dar uma base de retorno de nossos educandos sobre suas experiências no 2º FITA. Assim, saberemos o que chamou sua atenção e o que pode servir para nosso processo educativo. Bem como, poderemos e pretendemos enviar aos responsáveis do Festival as avaliações desses estudantes sobre os espetáculos e sobre a nossa participação no evento. Desta forma estaremos não apenas auxiliando na formação de público para o Teatro, mas incentivando os organizadores a continuar a promover eventos como esse e, claro, crescendo como educadores de Arte e de Teatro. Não pesquisamos para nós próprios. O que nos importa são os educandos, suas curiosidades estimuladas e seu crescimento enquanto indivíduos em sociedade.


Professores: precisamos discutir Arte-educação, valorizar a Arte-educação; precisamos respeitar a Arte-educação!

2 comentários

Arte-educadores: ainda não mudamos de profissão...





O ponto de vista de Mariana me provocou.



Fiquei pensando sobre como é duro dar aula de teatro.



Fiquei pensando o quanto e a quem se pode responsabilizar. De quem é a culpa do ensino de teatro nas escolas ser tratado de maneira verdadeiramente irresponsável. O teatro raramente é visto como uma disciplina central pelas escolas. Quando é oferecido, quase sempre figura como uma disciplina menos importante.
Lembro de uma situação a que todos os professores curriculares da disciplina de teatro já passaram: tem lá um aluno que foi aprovado em tudo, menos na sua disciplina que não é química, e sim teatro. O que fazer?
Sim, porque um cara não pode viver sem saber o número químico do elemento chumbo, mas é claro que ele pode ficar sem aprender a representar um teatro.
Já imagino as mães dizendo:

-Ah! Professora, ele vai ser engenheiro, ele não vai precisar de teatro....

E nós, tolos professores da área brigamos dia-a-dia para que o filho desta querida mãe tenha a oportunidade de ter contato com a arte teatral na escola. Mais do que a questão da aprovação ou reprovação de um aluno, o ponto principal me parece ser oportunizar o acesso.
Penso que compramos essa briga porque simplesmente acreditamos que o espaço de uma aula de teatro no currículo pode dar ao aluno um conhecimento específico, que nenhuma outra disciplina deste currículo atende .
É para isso que queremos mais espaços na escola: para dar aos alunos mais acesso à arte teatral.
E por que diabos não conseguimos?
Acho que é uma soma de fatores.
Primeiro de tudo é a estrutura da educação, da escola que não é pensada para o ensino de teatro.
Quando cheguei na escola em que trabalho, tinha que afastar as carteiras das salas em toda a turma que eu tinha aula. Era uma bagunça geral. Os outros professores reclamavam. Era barulho e bagunça. Meu argumento sempre foi meio irredutível: preciso de espaço para dar minha aula.
O que é realmente desanimador é o fato de que neste ano (exatos seis anos depois da minha admissão na Prefeitura Municipal de Florianópolis) dando aulas sempre na mesma unidade escolar, tentaram NOVAMENTE me deixar sem espaço adequado para trabalhar.O problema foi rapidamente solucionado e acabei não ficando sem sala. Mas, fico pensando o que fiz para merecer isso.
Aí me somam outros flashes que demonstram como o ensino de artes é maltratado em geral.
Há, claramente, uma preocupação em dar aos alunos o acesso aos bens culturais.
A primeira experiência que me vem à cabeça é a ida de alunos da rede pública de Florianópolis no teatro do CIC para ver uma apresentação do Ballet Bolshoi neste ano.
Sinceramente, eu achei o máximo. Dar acesso a bens culturais que meus alunos pouco tiveram contato é verdadeiramente maravilhoso.
Problema número um: só vinte e cinco alunos por unidade escolar. A escolha na nossa unidade foi absolutamente subjetiva. Mobilizei os professores, discutimos fria e cruelmente quem dos 700 alunos da nossa escola mereceria mais ir ao teatro ver o Bolshoi.
Meio cruel, não acham?
Problema número dois: transporte. Minha escola fica a 40 quilômetros de distância do centro da cidade, a viagem de ônibus dura mais ou menos uma hora e meia. Há um risco em sair com vinte, trinta adolescentes na rua, pegar ônibus e voltar para escola... Quem será responsabilizado se algo de errado ocorrer? Você, o professor responsável.
Sem falar em ficar à mercê dos horários de ônibus do transporte municipal de Florianópolis. Já que o que nos é oferecido são somente os cartões de passe, e não um transporte escolar exclusivo.
Dentro dessas perspectivas, mesmo assim, decidi ir a apresentação que ocorreu no teatro Ademir Rosa, no Centro Integrado de Cultura. E a apresentação foi realmente boa. Era como se fosse um pout-pourri de grandes ballets clássicos. Era um ensaio para a apresentação que aconteceria no final de semana. Dava para ouvir o diretor do ballet gritar comandos ás bailarinas.
No final da apresentação as alunas falaram e tiraram fotos com as bailarinas. Elas estavam muito felizes. Acho que foi daquelas experiências escolares inesquecíveis, daquelas que com quarenta anos você ainda se lembra. Fiquei feliz. E aí fui perguntar para uma das organizadoras se eu podia ter acesso ao programa do espetáculo. E ela não tinha o programa. Eu fiquei pensando que eu não iria poder trabalhar com as alunas que viram o espetáculo, o que era aquilo que elas gostaram tanto. Quem eram os compositores das músicas, de quem eram as coreografias dos ballets.
E eu saí de todo o acontecimento com uma sensação de que minhas alunas mereciam mais do que aquilo...



Logo após o episódio Ballet Bolshoi, nós professores de arte somos convidados para uma visita guiada na exposição do quadro A Primeira Missa no Brasil. A obra do pintor catarinense Victor Meirelles, que foi restaurada recentemente fica exposta normalmente no Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro e pouco sai de lá. Estava na nossa cidade no Museu de Arte Santa Catarina. Eu, como professora de artes que quer proporcionar acesso aos bens culturais, fiquei radiante. Ah! Que maravilha meus alunos vão ter a oportunidade de ver uma obra como que canônica na arte brasileira! Para mim, a ocasião de um de meus alunos ver A Primeira Missa de Victor Meirelles, era quase como equipará-lo ao querido aluno europeu que vai ao museu ver Van Gogh, ou ver Leonardo da Vinci. Sim, senhores, eu sei da diferenças entre Van Gogh e Victor Meirelles, mas...
Chegando na tal visita guiada me deparo com uma imagem por assim dizer desalentadora. Saí desanimada da tal da visita e decidi que não iria levar meus alunos. Eu iria abdicar de levá-los ao cânone.
Isso se deve simplesmente ao fato de que nos enormes corredores do Museu de Arte de Santa Catarina, não havia outro quadro senão o de Victor Meirelles.
E, senhores, o quadro estava lá, na última sala do museu, sozinho.
Eu perguntei a nossa guia o porquê do museu estar completamente vazio. Ela me disse que uma nova exposição estava no museu, empacotada para ser montada, mas não havia seguro para fazê-lo. Então a tal exposição estava encaixotada e meus alunos iriam até o centro da cidade, a 40 km da escola com ônibus regular, para ver uma obra só. Isso me pareceu burro. Por que eu iria correr o risco com meus alunos para ver uma obra só?
Eu já imaginei eles reclamando:

-Ah, professora, viemos até aqui para ver só isso?

Imaginei eles aos quarenta anos, lembrando que um dia uma professora de artes meio tola os levou para visitar um museu vazio.
Foi por causa disso que não levei meus alunos.
E aí me volta a questão da quase perda da sala de artes da minha escola, que foi resolvida brevemente com a mobilização da comunidade escolar que informou ao meu caro diretor que eu não poderia ficar sem a sala de artes.
O que se coloca friamente é o seguinte: não há necessidade de consumo de bens culturais se antes não de viabiliza o acesso a esses bens.
Os meus alunos só lutaram pela permanência da sala de artes na escola, porque já existia uma necessidade deste espaço.
E os espaços de arte, sinceramente não podem estar vazios.
E quando se pensa em dar acesso aos bens culturais para os alunos, deve-se pensar em como contextualizar-se tal obra. Deve-se encher o museu de outras obras que dialogam com o cânone. Deve-se proporcionar a informação de quem são as músicas que ele ouve.
Deve-se ampliar os horizontes.
Portanto, acredito muito que a única postura possível para um professor de arte-educação é aquela em que ele vai brigar pela sala de artes, pedir o programa do ballet e reclamar de um museu vazio.
Afinal de contas, meus caros, somos professores de artes, nos formamos, temos um diploma, e pasmem, ainda não mudamos de profissão.



Nara Micaela Wedekin

1 comentários

O Espaço do Teatro na Escola - mãos à obra.


Uma das questões com a qual os professores de Teatro obrigatoriamnente se deparam ao chegar no mercado de trabalho é: que papel ocupa o ensino de Teatro dentro das escolas? Guardadas as devidas proporções, regionais, nacionais, municipais, nos deparamos, de maneira geral, com o mesmo problema. Via de regra, ou o espaço p/ esta atividade não existe, ou está sendo mal-aproveitado pela escola. Poucas são as exceções. A que se deve este fato? Será responsabilidade das escolas, mal-informadas sobre as possibilidades pedagógicas do teatro-educação? Será responsabilidade da Universidade do Estado, há tempos aquela que forma (ou de-forma) os professores desta área? Ou ainda dos profissionais da área, que criam espaços e não os aproveitam bem, ou nem procuram criá-los?
A meu ver, a justificativa é composta pelo somatório de todos os fatores acima citados. Um pouco de cada, em medidas diversas, afinal, cada caso é um caso. Mas com alguma coisa em comum..! Da parte das escolas, o que normalmente ouvimos são propostas descabidas ou sem embasamento nenhum, geralmente tratanto o ensino das Artes Cênicas (e muitas vezes das Artes em geral) como acessório das outras disciplinas, ou como uma parte da recreação e mais comumente ainda, como espaço para montagens de "pecinhas" ou "teatrinhos" para datas festivas do calendário escolar. Que professor ou professora de Teatro nunca se deparou com uma dessas três perspectivas acerca do seu trabalho? São assustadoramente raras as Escolas que não encaram de forma diminutiva o ensino das Artes Cênicas. Da mesma forma, encaramos outra realidade assustadora quando avaliamos a parte da Universidade do Estado neste processo. Tendo sido aluna recente deste estabecimento, posso afirmar: (agora com ainda mais convicção, uma vez que já estou no mercado de trabalho) lá, não encontramos o espaço e a orientação necessária para nos preparar para o mercado. Para quem já estudou lá, isso não é novidade, ainda que alguns poucos insistam em enfeitar o passado, confundindo experiências pessoais com experiências coletivas. O que acontece, na minha opinião é que não há unidade de ensino e particularmente no caso das disciplinas de estágio, a maioria dos educadores-em-formação é deixada à própria sorte. Quem tem sucesso em encontrar um campo frutífero para seus estágios, e além disso de encontrar um professor responsável para efetivamente orientá-lo, acaba tendo uma experiência formativa consistente e real. O restante acaba à deriva, sem orientação ou mesmo vivendo uma experiência traumática. A UDESC não vem cumprindo o seu papel no que diz respeito à preparação de seus alunos para o real mercado de trabalho da educação. Não auxilia os educandos a sistematizar uma metodologia aplicável de trabalho, e muito menos orienta no sentido de ampliar e fortalecer os laços entre escolas e universidade. E essa situação dá origem ao terceiro problema, que acredito estar intimamente ligado à escassez de espaços para o teatro-educação nas escolas. A performance dos profissionais da área. É necessário acrescentar aqui que é frequente encontrar nas escolas, professores não habilitados na área, ocupando a vaga de professor de artes-cênicas. E assim, surge uma contradição: se os habilitados pela UDESC estão mal-preparados, os que não são habilitados na área por universidade alguma, estão em uma situação ainda pior. É muito raro, para não dizer coisa pior, encontrar um trabalho consistente e estruturado, regido por professor não formado em Artes Cênicas. O mais comum é encontrar aberrações sem proporções, trabalhos que não valem nem comentários...processos que dimunuem a arte do teatro, que a reduzem a uma ginástica sem propósito, ou a uma récita de mal-gosto talvez. Novamente, o teatro-educação como acessório, como enfeite e/ou recreação.
Do outro lado da moeda está uma parte considerável dos professores habilitados que, perdidos em sua despreparação acadêmica, não encontram meios de estruturar seu trabalho, não dispõem das armas da argumentação e do discurso para enfrentar a reticência das direções de escolas e dos pais. Pode paracer exagero mas é preciso ser persuasivo, ou persuasiva, para convencer a comunidade escolar dos benefícios que uma disciplina curricular ou oficina extra-curricular de teatro pode oferecer a todos. É uma batalha diária! Trabalhar não só em sala de aula, mas fora dela, para decodificar dia-a-dia, propostas pedagógicas e resultados para quem desconhece o ofício, e, na maioria das vezes, nem frequenta os teatros. Esse diálogo, que deve ser constante, é o fertilizante desta complexa relação. É preciso re-significar o processo enquanto "colheita", e o produto enquanto consequência e/ou finalização de um aprendizado, meio e não fim em si.
Aqueles que restam, aos poucos vão adentrando a Escola, semeando o interesse e o respeito pelo Teatro enquanto linguagem autônoma e específica, que tem, por si só, muito a oferecer aqueles que lhe cederem tempo e dedicação.
Sem mais, convido a todos e todas: mãos à obra, há muito a se conquistar!!



Mariana Schmitz

0 comentários

O Grupo

Enquanto grupo de pesquisa na área do Teatro-educação, nos propomos a investigar não apenas as referências teóricas que tratam das nossas preferências e inquietudes pedagógicas mas também a aplicação dessas metodologias no dia-a-dia da sala de aula. Cada um a seu modo, e com foco específico, procura desenvolver, em diálogo com o grupo, experiências educativas que partam da práxis do ensino do ofício da cena.
Os focos do nosso diálogo são: o papel da improvisação no processo de aquisição da linguagem cênica; o jogo como motriz do aprendizado dos conceitos spolianos; o trabalho do texto, da criação coletiva e da montagem enquanto construção de conhecimento específico da linguagem teatral, entre outros.
Esta pesquisa nasceu quando nos deparamos com a necessidade de buscar uma maior profundidade e sistematização do trabalho que já vinha sendo desenvolvido pela equipe, primeiramente na Escola Básica Municipal Maria Conceição Nunes, no Rio Vermelho, no norte de Florianópolis. Por lá passaram os três membros do grupo de pesquisa. Nara Wedekin como educadora da escola, Mariana S. Schmitz e Juliano F. Thomaz enquanto estagiários. Após a parceria estabelecida nos estágios, surgiu a iniciativa de estender o diálogo e compor um grupo.
Assim, a Oficina da Poesia em Cena existe hoje para servir como espaço para uma colaboração perene e profícua no que diz respeito aos trabalhos que seus membros venham a realizar na área do ensino das artes cênicas.
Nosso objetivo maior, é claro, é reverter todos os resultados dessa pesquisa para a construção de processos de teatro-educação cada vez mais prazerosos e proveitosos do ponto de vista de nossos educandos. A geração que nos propomos a formar é a razão da nossa busca.
Por isso, pesquisamos. Por isso buscamos a POESIA EM CENA.

Contato: oficinadapoesiaemcena@yahoo.com.br

0 comentários

JULIANO THOMAZ

Licenciado em Educação Artística Habilitação Artes Cênicas pela UDESC em 2007 . Além de atuar como mágico e ator desde de 1997, é professor do projeto extracurricular de Teatro do Colégio Guarapuvu. Trabalha também como professor no projeto Escola Aberta da Prefeitura de Florianópolis, na Escola Básica Municipal Maria Conceição Nunes, na comunidade de São João do Rio Vermelho. Em parceria com o Projeto Shakespeare no Rio Vermelho, pesquisa as formas animadas, sobretudo o impacto da utilização de máscaras expressivas na formação dos educandos.
Tem como referências para esta pesquisa as obras de: Jacques Copeau, Ana Maria Amaral, Viola Spolin e Ingrid Koudela, entre outras.





Contato: jfthomaz@yahoo.com.br

0 comentários

MARIANA S. SCHMITZ

Licenciada em Educação Artística - Habilitação Artes Cênicas em 2006 pela UDESC. Já trabalhou com o ensino do Teatro em caráter curricular (C.E.I. Convivência, Fundação Catarinense de Educação Especial). Desenvolveu também trabalhos com grupos extracurriculares na Escola Praia do Riso, no Colégio Catarinense, no Centro Educacional Menino Jesus e na Cia Nacional de Talentos (CNT). Sua pesquisa tem como foco principal a formação do ator com referência nas obras de Jacques Copeau e o ensino do Teatro através do jogo, com referência no trabalho desenvolvido por Viola Spolin. Atualmente é aluna do programa de mestrado em Etudes Théâtrales da Université de la Sorbonne Nouvelle - Paris III, em Paris, França.

0 comentários

NARA MICAELA WEDEKIN

Licenciada em Educação Artística Habilitação Artes Cênicas pela UDESC em 1996 e especialista em Drama-Educação pela University of Central England. Atua como professora do ensino fundamental e médio desde 1995, tendo atuado como professora curricular e extracurricular no Colégio Catarinense por 9 anos. lecionou também no Curso de Graduação em Artes Cênicas da UDESC. Atualmente, enquanto professora efetiva na Prefeitura de Florianópolis, desenvolve o Projeto Shakespeare no Rio Vermelho na Escola Básica Municipal Maria Conceição Nunes, com alunos de 5ª a 8ª séries. Seu foco de pesquisa é o trabalho sobre o texto com base no jogo teatral para a realização de montagens anuais no espaço escolar. Suas referências são Viola Spolin, Cecilly O´Neill e Dorothy Heathcote.

Contato: naramwedekin@yahoo.com.br